A Difícil Vida Cristã na China
“Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus...” (Mt 5, 11-12)
Ainda hoje, século XXI, cristãos morrem pela causa do Evangelho; são perseguidos por sustentarem sua fé. Em muitos lugares, apesar da liberdade religiosa teoricamente ser reconhecida, na prática ela é cerceada por razões políticas ou pelo relativismo que permeia o mundo. Em países como China, Paquistão, Nigéria, Índia e tantos outros, cristãos são alvo de perseguições e acabam, muitas vezes, sendo martirizados por professarem sua fé.
Na China, após a revolução comunista (1949), cristãos passaram a ser perseguidos: missas foram proibidas, igrejas transformaram-se em escolas, fábricas ou hospitais. Leigos, padres e bispos foram presos, torturados e alguns martirizados, mas, mesmo assim, não deixaram de professar sua fé. O governo, para mostrar sua autoridade, cria a Igreja Patriótica, não tendo esta, entretanto, comunhão com a Santa Sé. Apesar disso, verdadeiros cristãos, padres e bispos não se deixam envolver por essa arbitrariedade e permanecem fiéis a Cristo e em comunhão com o Papa.
Ainda hoje na China, a Igreja está dividida em duas: a oficial, Igreja patriótica, criada e dirigida pelo governo e cuja nomeação dos bispos é feita por pagãos, e a Igreja do Silêncio ou subterrânea, que é a Igreja perseguida, na qual cristãos vivem momentos difíceis pela falta de liberdade de culto, o que leva milhões de católicos a viverem sua fé clandestinamente.
Em conversa com o Padre Li Guozhong, da Paróquia de São Francisco Xavier, na Tijuca, ficamos conhecendo um pouco mais sobre esse assunto.
Filho de uma família católica praticante, resistiu à violentas perseguições, rezava baixinho e escondido em quarto escuro, principalmente à noite. Aos dezesseis anos, Pe. Li confessou pela primeira vez e fez a Primeira Comunhão com um padre que visitava uma comunidade próxima (que há trinta anos não recebia um sacerdote). Para que isto acontecesse, ele e um amigo viajaram durante a noite, para não serem presos, andando cerca de dez quilômetros a pé para chegar a esta comunidade.
Querendo ser sacerdote, ele contou com a ajuda de um tio padre, fora do país há 30 anos, e que estava em visita à família, pois na China, até hoje, não há seminários. Longa foi a espera para conseguir seu passaporte, devido aos muitos interrogatórios, pois queriam saber o motivo pelo qual ele deixaria o país e terem a certeza que seu tio não o encaminharia a um seminário no Brasil. Alegando que iria continuar seus estudos científicos, Padre Li conseguiu finalmente autorização para deixar a China, vindo em 1983 para São Paulo. Aprendeu nosso idioma, entrou para o Seminário São José e em 1991 foi ordenado sacerdote.
Perguntado sobre a situação atual na China, ele nos conta sobre a dificuldade que até hoje existe para a formação de um vocacionado: “Lá não existem seminários como aqui; a Igreja do Silêncio não possui seminários oficiais. Lá os seminários são como pequenas comunidades, dentro de casa mesmo, e um padre é o único responsável pela formação e assistência religiosa desses jovens, tudo isso feito clandestinamente”. E explica: “Os seminários bem estruturados existentes, pertencem a Igreja Patriótica, mas esses não possuem comunhão com a Santa Sé.”
Padre Li exorta todos os católicos a que, mesmo distantes dessa realidade, plantem boas sementes nos corações daqueles que ainda não se conscientizaram desses fatos que acontecem até hoje: “Apesar de nós termos liberdade religiosa no Brasil, nós não a valorizamos. Apesar das perseguições na China, os católicos vivem firmemente sua fé; isso é um exemplo para nós católicos aqui no Brasil. Além de rezar pelos cristãos perseguidos, não somente na China como em diversas partes do mundo, nós precisamos dar o exemplo aos que não praticam a fé, lançar sementes do Evangelho para essas pessoas que não valorizam essa liberdade religiosa.”
Precisamos estar atentos à Igreja que sofre. Devemos estar unidos em orações, pois se pertencemos ao Corpo de Cristo que é a Igreja, somos todos um só, unidos pelo mesmo Cristo: “Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele.” (I Cor 12,26)